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UMA ABORDAGEM FOCADA NA COMPAIXÃO PARA TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Mary Welford Greater Manchester West. International Journal of Cognitive Therapy, 3(2), p.

124-140, 2010

“A Compassion Focused Approach to Anxiety Disorders”, de Mary Welford. Tradução de Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher.


 

O SISTEMA DE AMEAÇA


A ansiedade, é claro, tem a ver com o processamento de ameaças. Os tipos de transtornos de ansiedade que a TFC está especialmente interessada são aquelas associadas com vergonha, autocriticismo e medo de envolvimento. Tais indivíduos podem ter dificuldades com a TCC tradicional. Na TFC, a grande ênfase é localizada no esclarecimento fornecido ao indivíduo sobre o papel incrivelmente importante do sistema de ameaça. A compreensão das respostas emocionais, cognitivas, comportamentais e fisiológicas do sistema de ameaça é fundamental.


Mais especificamente, ele evoluiu como um sistema de autoproteção, não é nosso inimigo,

tampouco algo a ser eliminado, mas sim algo a ser trabalhado e equilibrado com nossos outros sistemas. Então, o terapeuta explica que o sistema de ameaça existe porque sem ele os seres vivos (incluindo nós) não sobreviveríamos. Seu papel é detectar e alertar sobre ameaças potenciais e nos capacitar para responder rapidamente. Nós experienciamos reações fisiológicas automáticas, uma rápida ativação de emoções (por exemplo, ansiedade, raiva), comportamentos (por exemplo, congelar, lutar, fugir, submeter-se) e processos cognitivos (por exemplo, atenção seletiva, raciocínio em preto e braço, conclusões precipitadas). Essas reações são chamadas de processamento de “melhor prevenir do que remediar” (better safe than sorry) (Gilbert, 1998).


O terapeuta normaliza as tendências a essas reações. Por exemplo, se um animal comendo

calmamente em um campo ouve um som às suas costas, ele ficará alerta e possivelmente

fugirá. Em nove de dez vezes, não havia necessidade de correr e acabar perdendo momentos agradáveis de alimentação. No entanto, ele ficou salvo. Na décima vez pode realmente haver um predador. Então, a sua hipervigilância, o pensamento de “melhor prevenir do que remediar” esteve incorreto em nove de dez vezes, mas ele sobreviveu. O animal que decidiu ter uma abordagem mais relaxada com a vida e ignora o som poderia ficar OK em nove de dez vezes, mas na décima estaria morto. Discutir com os indivíduos de que esse sistema é programado para catastrofizar e aprender a identificar “pensamentos de melhor prevenir do que remediar” ajuda a normalizar suas experiências. Além disso, o terapeuta pontua, por exemplo, que as emoções de ameaça são programadas para desativar emoções positivas, possibilitando o foco na ameaça. Isso pode ser útil para pessoas que têm dificuldades com uma comorbidade depressiva. Para muitos indivíduos, o sistema de ameaça pode ser extremamente sensível. Podemos detectar essa sensibilidade utilizando várias medidas fisiológicas (por exemplo, fMRI) e podemos detectar mudanças (por exemplo) na atividade da amígdala (LeDoux, 1998). Isso pode ser atribuído a fatores independentes ou inter- relacionados. Primeiro, o indivíduo pode ter crescido e experienciado um ambiente no qual ameaças físicas, sociais e/ou psicológicas eram comuns.

Assim, a necessidade de detectar e reagir à ameaça é elevada. Alternativamente, ele pode ter crescido em um ambiente ansioso, onde figuras significativas modelaram e reforçaram altos níveis de processamento de ameaça, transmitindo isso à criança via aprendizagem e genética.


Pais ansiosos, por exemplo, podem tentar impedir que suas crianças se sintam ansiosas encorajando comportamento evitativo. Isso pode ser parcialmente devido ao fato de que uma criança ansiosa e estressada é aversiva a muitos pais e eles podem, por exemplo, acreditar que o ato de impedir suas crianças de experienciar ansiedade é uma coisa gentil de se fazer. Então, se a criança fica ansiosa sobre ir a uma festa, por exemplo, e os pais dizem “tudo bem, você pode ficar comigo”, a criança nunca aprende como tolerar a ansiedade, tampouco as habilidades sociais de conhecer pessoas novas nesse tipo de situação. Assim, o pai modela e ensina à criança o “melhor prevenir do que remediar” e uma gama de comportamentos de segurança que possuem consequências involuntárias – falta de aprendizagem sobre como tolerar e enfrentar a ansiedade, falta de oportunidades para aprender que festas podem ser divertidas e não apenas ameaçadoras, falta de oportunidades para desenvolver habilidades de relacionamento social, fazer amigos e

de compartilhamento nesses contextos. Claramente, é importante que os terapeutas

diferenciem entre sensibilidades advindas de um ambiente traumático ou assustador

(relacionados a traumas) e aquelas advindas de faltas de oportunidades para aprender a

tolerar e lidar com a ansiedade. Então, a TFC dedica muito tempo a ajudar as pessoas a

reconhecerem que seus cérebros estão programados para serem capazes de gerar altos níveis de ansiedade e, por vezes, cometer erros – o que, é claro, não é sua culpa.

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